domingo, 27 de março de 2011

O Meu Olhar

     O meu olhar é nítido como um girassol. 
     Tenho o costume de andar pelas estradas 
     Olhando para a direita e para a esquerda, 
     E de, vez em quando olhando para trás... 
     E o que vejo a cada momento 
     É aquilo que nunca antes eu tinha visto, 
     E eu sei dar por isso muito bem... 
     Sei ter o pasmo essencial 
     Que tem uma criança se, ao nascer, 
     Reparasse que nascera deveras... 
     Sinto-me nascido a cada momento 
     Para a eterna novidade do Mundo... 
     Creio no mundo como num malmequer, 
     Porque o vejo.  Mas não penso nele 
     Porque pensar é não compreender ...
     O Mundo não se fez para pensarmos nele 
     (Pensar é estar doente dos olhos)                   
     Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
     Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... 
     Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, 
     Mas porque a amo, e amo-a por isso, 
     Porque quem ama nunca sabe o que ama 
     Nem sabe por que ama, nem o que é amar ... 
     Amar é a eterna inocência, 
     E a única inocência não pensar...


(Alberto Caeiro - Fernando Pessoa - o guardador de rebanhos)

Lua...eternamente...Lua

Nenhum comentário:

Postar um comentário